Não sei você, mas tenho meus momentos sagrados ao longo da semana. Acordo mais cedo que a casa todos os dias só para ver Zuquinha e Fubá, meus cães, ainda se espreguiçando antes de pularem da cama para me lamber, poder me sentar onde os primeiros raios de sol batem na sala e, então, respirar literalmente tranquila por uns instantes, no constante e tão difícil exercício de manter minha mente ainda no século presente. Essa é minha dose de “cafeína” para eu me sentir desperta e pronta para o dia, qualquer um que seja. Quarta-feira é, porém, o meu dia favorito da semana. E é simples o motivo: é o dia que reservo a manhã para estar mais livre, de preferência em casa, lendo, nadando ou com as mãos na terra, observando as abóboras que teimam em se espalhar pela calçada, colhendo limões-galego pelo quintal ou só curtindo o silêncio de estar sozinha em casa. Adoro essa sensação de pausa no meio da semana. As manhãs de domingo são também muito esperadas. Ainda mais quando o tempo está firme para pedalar um pouco ou para passear com os cães, antes de tomar café da manhã com a boa sensação de não ter de sair correndo para lugar nenhum.
Manhãs de domingo tranquilas em casa com sol forte, a liberdade de poder passar horas no quintal e não ter compromisso são meu troféu de uma semana que termina (ou começa) bem. Hoje o domingo começou, pois, diferente, com Fubá me lambendo antes das 7h para que eu, ainda de olhos meio fechados, coçasse sua pança cor-de-rosa. Não resisto, pulo loga da cama e vou para o meu ritual: faço um chá, estendo meu tapete de yoga e, claro, antes de eu me alongar sobre ele, Zuquinha já o tomou para si. Meia hora depois de cafunés, consigo um espacinho para fazer minha prática. Os raios de sol teimam, porém, em não me visitar. Me demoro ali um pouco mais na expectativa de que eles estejam preguiçosos e um pouco atrasados já que é domingo. Respiro calmamente. Mas não tem jeito: lá vem mais um dia de inverno em pleno verão brasiliense.
Termino de tomar o café da manhã e no instante de finalmente sair para o quintal, pronto, ela chega de novo. A chuva não larga minha cidade há dias. Há dias então que a horta do quintal parece um destino inalcançável. Já que não vai ter sol, nem horta, nem pedalada ou passeio pela quadra, decidimos que é melhor ir ao atacadão fazer a compra do trimestre dos itens que não acho na feira: vinagre para limpeza, arroz tailandês para acompanhar as moquecas, fígado de frango para mudar um pouco a dieta dos cães. Nos parece uma ótima ideia: quem mais sairia cedo da cama num domingo chuvoso para fazer compras? Pois é, foi só pôr o pé fora de casa que, em dois tempos, o céu se abriu. No final do quarteirão, vontade já de voltar para casa, mas a crença era de que o tempo iria, enfim, firmar e mais tarde eu poderia curtir o quintal. Quinze minutos depois, decepção total: Brasília inteira resolveu que nada era mais interessante que fazer compras naquela manhã de domingo. E nós, então, curtimos os parcos raios de sol do dia lá dentro do mercado, entre empilhadeiras, caixas de sabão em pó e carrinhos e mais carrinhos abarrotados.
O jeito era tentar dar uma graça a esse domingo fora dos (meus) padrões. Fim da tarde, a chuva ainda caía. Tempo assim pede chá e aconchego. Aconchego pede bolo. Lembro que na noite anterior eu prometera um bolo de chocolate para o Léo. Vou para a cozinha e me deparo com a aveia que compramos de manhã. Na hora, desejo um brownie vegano que não faço há mais de ano. Ligo o forno, a caixa de som e o meu dia já muda de cor. Agora tem cor de cacau e até já consigo curtir o friozinho e a chuva lá fora.
Esta receita é muito simples e, na mesma medida, gostosa. A base é de aveia e, se usar uma sem glúten (como faço), fica apta para celíacos e intolerantes a lactose. Outra vantagem é que é uma ótima opção para aproveitar o bagaço do leite de coco caseiro. Sempre me perguntam o que fazer com o bagaço que sobra do leite. Se você ainda não fez leite de coco em casa, não se assuste: é mais fácil do que imagina e infinitamente mais saboroso. Basta bater a polpa do coco seco com água morna (coloque o coco em pedaços no liquidificador e depois cubra com água, mas eu explico tudo direitinho neste post aqui). Bata bastante e coe em um pano de prato limpo ou em um voal. O que ficar no pano é o resíduo que usaremos no brownie. Além desta receita, uso o bagaço úmido para fazer o bolo-brownie de cacau ou outra receita que peça coco ralado na massa. Também gosto de torrar o bagaço, no forno baixo ou na frigideira, para fazer farofa (com banana-da-terra é uma delícia) ou farinha de coco. Se ainda sobrar, congelo.
Um brownie gostoso tem uma boa proporção entre gordura e açúcar, aqui no caso é óleo de coco e melado de cana. A qualidade dos ingredientes conta muito para o resultado final. Eu gosto de usar melado artesanal e cacau (sempre 100%) da Amma ou Callebaut, mas existem outras excelentes opções no mercado.
Agora, o segredo mesmo para a textura é o forno: o tempo e a temperatura fazem toda a diferença. Eu gosto de assar a 200 ° C (meu forno é elétrico) e por uns 11 a 15 minutos (geralmente, 12). Depende muito do quanto aqueceu o forno e da umidade da massa. Por isso, é bom colocar um timer, não sair da cozinha e sempre espiar antes do tempo para o brownie não secar. O bom é tirar ele ainda molhadinho, mas, claro, já assado.
Não deixe de usar nibs de cacau (é a amêndoa do cacau torrada e picadinha) ou, se não tiver acesso, um pouco de chocolate 100% ou um bem amargo em pedacinhos. Com o calor do forno, o nibs derrete e garante ainda mais umidade e cremosidade à massa. A flor de sal, que não é essencial, mas faz diferença, também combina muito bem aqui. Se não tiver, use a medida de sal fino apenas.
E um alerta: não é um brownie superdoce (eu costumo usar até um pouquinho menos de melado que a receita abaixo), mas é tão delicioso que transforma qualquer domingo chuvoso e meio desastrado num dia memorável!
- 2 xícaras de flocos de aveia (pode ser fino ou grosso)
- ½ xícara de cacau 100% em pó
- 3 colheres (sopa) de nibs de cacau
- 1 colher (café) de sal (sal fino marinho e flor de sal misturados ou apenas o sal fino)
- 1 colher (chá) de canela em pó ou de extrato de baunilha ou uma semente de cumaru ralada
- ½ xícara doresíduo do leite de coco
- ½ xícara de óleo de coco (derretido)
- ¾ de xícara de melado
- 1 colher (chá) rasa de bicarbonato de sódio
- 1 colher (chá) de vinagre de maçã
- Preaqueça o forno a 200 ° C.
- Unte uma fôrma pequena. Eu gosto de usar uma fôrma de aro removível, com 23 cm diâmetro.
- Bata os flocos de aveia no liquidificador para virar uma farinha bem fininha.
- Numa tigela grande, peneira a farinha de aveia e o cacau. Adicione os nibs, o sal e a especiaria (canela, baunilha ou cumaru). Misture tudo bem.
- Acrescente o óleo de coco, o melado e o resíduo do leite de coco. Misture tudo até a massa ficar bem úmida e homogênea.
- Por último, adicione o bicarbonato e o vinagre e misture.
- Passe a massa para a fôrma e leve para assar por 11 a 15 minutos, dependendo do forno. Tire o brownie do forno quando já estiver assado, mas ainda úmido. O cheiro delicioso pela casa ajuda a avisar!
- Deixe esfriar um pouco para desenformar.
- Sirva morno ou à temperatura ambiente.
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