Começou o inverno, chegou o frio (aqui em Brasília daqui a pouco já vai embora) e, então, está oficialmente aberta a temporada dos chás! Na verdade, nem preciso das temperaturas baixas para tomar uma boa caneca de chá quente. Tomo todo dia, mesmo no verão. Mas agora, com esse friozinho, o hábito fica reforçado e ainda mais gostoso. Acho que, além de gosto, chá é hábito mesmo. Eu não vivo sem, já acordo com um chá de gengibre e cúrcuma e vou dormir com um dos clássicos camomila ou erva-doce. Até no trabalho levo minha caneca e minhas ervas todo dia. É que, como já disse por aqui antes, não consigo ler ou escrever sem uma caneca de chá por perto. É como se, a cada golada, eu tivesse um momento de pausa para refletir e lidar com tantas ideias. Um apoio para quando palavras ou pensamentos não estão bem organizados e precisam de um respiro para voltar para o lugar.
E, além disso, chá também é conforto. Uma caneca de chá quentinho antes de dormir é um afago na alma. Talvez porque me venha à memória a cena da minha mãe entrando no meu quarto com uma xícara de chá de erva-doce ou camomila para mim, toda noite, quando eu era mais nova. Aliás, acho que ela já me dava chá na mamadeira. Deve ser por isso que amo tanto. É, pelo menos, o que diz a minha avó. Segundo ela, quem não bebeu chá de pequeno não toma gosto pela bebida. Faz sentido. Será que é por isso que nem todo mundo gosta chá? Tenho um amigo, por exemplo, que detesta, não bebe por nada. Mas teve uma vez que ele teve que tomar. Visitando o Japão, foi convidado para a cerimônia do chá, tradição milenar, e, então, não podia fazer feio, né? Fico só imaginando a cena…
Bom, eu digo chá para simplificar, mas quase nunca tomo chá mesmo, como o servido no Japão. Explico: chá é a infusão da planta Camellia sinensis, que, dependendo do método de processamento das folhas, pode dar origem aos famosos chás preto e verde e também aos chás branco, oolong e amarelo. Pois é, se fôssemos ao pé da letra, tudo o que não vem da Camellia sinensis não seria chá. Seria infusão — quando há imersão de folhas, flores, caules, raízes ou outras partes das plantas em água quente por alguns minutos — ou decocção — quando fervemos casca, caule, raízes ou frutas. Para facilitar a vida, porém, vamos chamar de chá e está tudo bem.
E tem chá para todos os gostos. Erva-doce, camomila, gengibre, capim-limão, dente-de-leão, folhas de oliveira ou de laranjeira, louro, hortelã, alecrim, manjericão (parece estranho, mas fica uma delícia) ou misturas de ervas e especiarias são os que mais faço. E tem um que acho que combina especialmente com o inverno: de maçã com canela e gengibre. A combinação é clássica, uma delícia e, como leva gengibre e canela, ajuda mesmo a esquentar. É uma boa pedida para acompanhar um bolinho, como aquele de banana. Foi o que minha mãe fez na edição do Cozinha Tropical lá em Juiz de Fora. O chá fez tanto sucesso que resolvi publicar a receita aqui.
É supersimples de fazer, mas, com o tempo, fui aprendendo algumas formas de deixá-lo mais gostoso. A primeira é que o chá precisa esfriar para o sabor ficar mais acentuado. Não é que vai ficar sem gosto logo após ser feito, mas o sabor é outro depois que ele amorna ou esfria. Comprovei essa minha teoria outro dia, lá no interior de Minas. Estávamos em Monte Verde, voltando de uma trilha já no fim do dia. Lá é alto de montanha, então, a temperatura era baixa. Daquelas em que a gente acende a lareira no quarto para dormir. Pois é, eu, então, só pensava num chazinho E, de repente, vi uma placa “chá de maçã”. Não pensei duas vezes, entrei na cafeteria e pedi logo uma xícara. Acho que foi o chá mais caro que já tomei na vida, mas também um dos mais gostosos. O atendente não era lá de muita conversa, mas, ficamos lá um tempo, ele se enturmou conosco (acho que porque éramos os únicos turistas que não tinham ido à cidade comer fondue, comprar roupa de frio e tomar chocolate quente) e me contou como fazia o chá. Em vez de fruta fresca, ele usava maçã seca. Mas o segredo mesmo era fazer o chá numa noite e deixá-lo descansando até o dia seguinte. Era isso, disse ele, que garantia o sabor apurado e delicioso.
Então, eu faço assim: depois de pronto, deixo o chá descansando até esfriar, com as maçãs, a canela e o gengibre dentro. Em geral, deixo o chá descansar de um dia para o outro, às vezes na geladeira, às vezes fora dela. Depois coo para que as maçãs não fermentem. Aí é só esquentar de novo (não precisa aquecer muito) ou tomar gelado, que também fica bem gostoso. Ele dura dias na geladeira.
Outra coisa que aprendi, desta vez com a minha mãe, é que, quanto mais velha a maçã, mais docinha ela fica e, consequentemente, o chá também. Muita gente toma o chá e pensa que é adoçado, mas não é não. É só o doce da fruta mesmo. A dica é usar aquelas maçãs que já estão ali de escanteio na fruteira, meio enrugadinhas e sem apelo para uma mordida. Uma forma deliciosa de evitar qualquer desperdício!
- 2 maçãs, preferencialmente orgânicas e mais velhas
- 2 paus de canela
- 1 pedaço de cerca de 5 cm de gengibre
- 1 litro de água
- Pique as maçãs (com casca) em meias-luas grossas.
- Corte o gengibre em fatias finas.
- Numa chaleira, leve para ferver as maçãs, a canela e o gengibre com 1 litro de água. Deixe ferver por 10 a 15 minutos. Quanto mais ferver, mais picante fica.
- Apague o fogo e deixe o chá descansar para apurar o sabor. De preferência, deixe de um dia para o outro.
- Coe, então, o chá (se passar muito tempo, as maçãs começam a fermentar) e aqueça na hora de tomar.
- Ele pode ser guardado na geladeira por dias. E fica gostoso também gelado.
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