De vez em quando levo para o trabalho alguns prato para compartilhar com a turma. Geralmente é algo de que gosto muito, uma receita nova que estou testando ou alguma coisa que estou com vontade de comer e, se não dividir, vou devorar tudo sozinha. Alguns pratos sei que vão agradar em cheio o pessoal, como o crocante de polenta com pesto de taioba. Mas nem sempre fico confiante com a repercussão que a receita terá entre eles. É que muitos ainda veem “comida saudável”, como eles dizem, com muita desconfiança, como algo dissociado de sabor, prazer, alegria à mesa.
Um amigo em especial é daqueles chatos mesmo para comer. Não prova nada se tiver cebola, não tolera nem o cheiro da azeitona, torce o nariz para todo tipo de legume. No prato dele, arroz, feijão, carne, farofa e ovo de codorna. Basicamente isso. Experimentar algo novo é um parto. Ele reclama, faz cara feia, arruma mil desculpas, tudo para não sair da zona de conforto do seu paladar. Mesmo assim já preguei umas boas peças nele. Uma vez saímos para almoçar e o levei a um restaurante bem natureba, daqueles que não servem nem arroz branco. Pois é, ele ficou tão abismado de comer arroz integral que na hora ligou para a mãe, no Rio de Janeiro, para contar. Outra vez levei uma mousse de chocolate para ele, que, comeu e adorou, antes de saber que, na verdade, era abacate com cacau!
E ele também dá troco. Faz piadinhas de todo tipo ao me ouvir trocando receitas com outro amigo, este bom de garfo e ótimo cozinheiro, por sinal. É por já me antecipar a essas piadinhas que sempre fico com o pé atrás quando ofereço algo “diferente” para ele. Mas esta semana foi ele que me surpreendeu. Levei chips de coco queimado com sal para a turma. Ofereci ao meu amigo gourmet, que adorou. E depois para o amigo “chato para comer”. Já preparei os ouvidos para ouvir: “Blah, que coisa sem graça. Quero é palha italiana!”, pedido constante dele e que teimo em não acatar. E não é que, em vez disso, ouvi em alto e bom som um :”Nossa, Fernandinha, faça um pote disso só para mim?”. “O quê?”, o jornal todo se perguntou. “Ele comeu, gostou e pediu mais?!”. Aí foi ele que virou piada, mas dessa vez por um bom motivo!
Essa receita — nem sei se dá para chamar de receita, já que são só dois ingredientes — é tão fácil que nem tinha pensado em postá-la aqui. Mas, depois do sucesso que ela fez lá no trabalho, vi que seria uma boa dividir algo tão simples e que agrada tanto. Eu faço esses chips geralmente para beliscar algo gostoso quando estou meio sem fome ou com aquela boca nervosa de comer só por prazer mesmo. Eles ficam ótimos também como petiscos em festas ou, como sugeriu outro amigo do trabalho, para acompanhar uma cerveja. Como o coco fica salgadinho, deve combinar superbem. Também gosto de usar os chips para dar uma crocância e um sabor levemente defumado a alguns pratos, como uma simples salada verde ou uma salada tailandesa de arroz que ensino nas aulas do Cozinha Tropical.
Enfim, é bem versátil: vai da salada do dia a dia ao happy hour, dos pratos que impressionam aos belisquetes para assistir a um filme. Como é muito simples e rápido de fazer, gosto de preparar na hora de comer. Mas, se quiser fazer um pouco a mais, pode guardar por poucos dias num pote de vidro bem fechado. Mas só coloque no vidro depois de os chips estarem bem frios, caso contrário, ficam murchos e aí perdem a graça.
A dica para ficar no ponto certo e não torrar demais o coco é ficar de olho no seu forno quando for fazer pela primeira vez. Não adianta, cada forno é de um jeito e, como os chips são fininhos, um minuto a mais pode colocar tudo a perder. Se acontecer de passar demais o ponto e eles escurecem totalmente, calma: nem sempre estão queimados, apenas tostados demais. Dá para salvar. Mas o ponto perfeito é quando as bordas estão bem douradas e a parte de dentro ainda está branquinha.
Outras coisas que fazem diferença no resultado final são a forma e a quantidade de coco colocada no tabuleiro. Coloque as fatias de coco distribuídas sem uma se sobrepor à outra. Elas precisam estar em contato com a assadeira para ficarem crocantes por igual. Se colocar coco demais, o calor do forno não vai ficar bem distribuído e algumas partes dos chips ficarão moles, e não crocantes. Isso depois reduz o tempo de armazenamento. Lembre-se de que é preciso ter ar entre as fatias para elas ficarem crocantes. E quanto maior o tabuleiro e maior a quantidade de coco, maior o tempo de forno também. Leve isso em consideração quando quiser fazer uma quantidade diferente. E, se puder, prefira o forno elétrico, que distribui também melhor o calor. Mas dá supercerto no forno a gás.
A única coisa que dá trabalho nessa receita é tirar a polpa do coco. Eu geralmente peço para abrirem o coco para mim no supermercado. Assim, evito de trazer a fruta estragada para casa e já facilita, pois é só tirar a polpa com uma chave de fenda (deixe uma exclusiva para a cozinha) ou, como prefiro, uma faquinha com a ponta quebrada. Aqui em Brasília muitos supermercados ou hortifrútis já vendem o coco “descascado”. Se quiser abrir em casa, ensino abaixo uma forma de abrir o coco no forno. Também funciona bater um coco no outro! Ou então, depois de furar um dos três olhos do coco e escorrer a água, dar leves marteladas no coco todo. É só segurar o coco com uma mão e, com a outra, ir martelando levemente todo o coco. Depois, dê uma martelada forte para rachar o coco. Já testei de todas essas forma e dá certo (neste post aqui tem outras dicas de como abrir, tirar a polpa e fazer o leite de coco). É só escolher a preferida.
O último “truque”é, na verdade, um charme que gosto de dar, embora não seja essencial: além do sal fino, salpico um pouco de sal cinza (que é granulado, mas não como o sal grosso) ou de flor de sal sobre os chips. Os crocantes do sal ajudam a deixar a textura mais interessante e a realçar o sabor. Se não tiver, vá só de sal fino mesmo e seja feliz. Porque, com um pote de chips de coco crocante por perto, ninguém vê motivos para reclamar. Nem mesmo meu amigo chato para comer (que, ele sabe, mora no meu coração) .
- coco seco (150 g de coco rendem cerca de um tabuleiro grande)
- uma pitada de sal marinho fino
- uma pitada de flor de sal ou sal cinza
- Para abrir o coco, fure, com uma faquinha de ponta, um dos três "olhos" do coco. Somente um deles é macio o suficiente para ser furado.
- Com um saca-rolhas, aprofunde o buraco.
- Despeje a água do coco num copo.
- Leve o coco ao forno preaquecido por 20 minutos ou até a casca rachar.
- Com uma faca sem ponta ou uma chave de fenda, tire a polpa do coco com cuidado.
- Se o coco já estiver descascado e o forno ainda frio, preaqueça o forno a 180 °C.
- Corte o coco em pedaços médios, cujas laterais tenham cerca de 4 cm a 5 cm.
- Não precisa retirar aquela película marrom do coco.
- Use um descascador de legumes (qualquer um dá certo) para fatiar o coco finamente e de forma uniforme. O mandoline não é muito seguro, já que o coco é bem duro.
- Distribua as fatias de coco num tabuleiro antiaderente (sem untar) até preenchê-lo sem que os chips estejam sobrepostos.
- Para um tabuleiro grande, use cerca de 150g de coco.
- Salpique as fatias com uma pitada de sal fino e uma pitada de flor de sal.
- Leve para assar por cerca de 12 minutos.
- Fique por perto. Assim que sentir o cheirinho de coco queimado, deve estar pronto.
- Aconselho a conferir a partir dos 10 minutos, até entender como funciona o seu forno.
- Quando os chips estiverem com a borda queimada e o centro ainda branco, retire o tabuleiro do forno.
- Deixe os chips no tabuleiro até esfriarem totalmente. Depois de frios ficam mais crocantes.
- Quando esfriar, sirva (coloque junto o sal que ficar no tabuleiro) ou armazene em um pote de vidro bem fechado.
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