Lá pelos meus vinte e poucos anos, café da manhã, para mim, era sinônimo de granola com mamão ou com iogurte, que, de vez em quando, minha mãe preparava em casa. Não tinha muita variação mesmo não. Até porque, quando gosto de uma coisa, gosto mesmo. Ainda mais com comida. Pois é, por causa disso, já coloquei muita gente em cilada.
Nessa época, eu só gostava de uma granola que era feita em Juiz de Fora, onde eu morava. Não sei por que não tinha descoberto ainda o quão mais fácil, saudável e gostoso é fazer granola em casa. E seguia, então, comprando granola. Até que um dia me mudei para Brasília. Como no início a saudade de casa era grande, ia todo mês a Minas visitar meus pais e aproveitava, então, para trazer um tantão da granola na mala.
O tempo foi passando e as viagens, ficando menos frequentes. Um dia o Léo, ainda meu namorado, foi para Juiz de Fora. Claro, pedi à minha mãe para mandar com ele a tal da granola. Um pouco, pensei. Mas eu devia ter imaginado: minha mãe é exagerada! Ela mandou não uns dois ou três quilos — o que já seria demais —, mas uma mala inteirinha de granola! Nem eu pensaria que ela seria capaz disso. Mas ela foi e ainda entregou a bagagem para o Léo sem contar o que tinha lá dentro.
Quando ele foi passar a mala pelo raio-X no aeroporto, a funcionária o barrou. Luz vermelha acesa, chega o segurança, os dois avaliam a imagem em preto e branco. Desconfiaram, claro, daquele monte de pacote milimetricamente arrumado dentro de uma bolsa. E perguntaram, meio constrangidos, para o Léo o que que tinha dentro dos pacotes. Mesmo sem saber, o Léo me conhecia o suficiente para arriscar: “É tudo granola! Tô levando para a minha namorada. Pode conferir”. É claro que a funcionária e o segurança não acreditaram de primeira e abriram a mala. No mínimo, devem ter achado que ele ia vender aquilo tudo! Confusão desfeita, o Léo conseguiu embarcar, mas a granola foi tanta que sobrou e acabou dando bicho. Argh! Só sei que perdi não só a granola em excesso, mas também a paixão por ela.
Foi, então, que comecei meus experimentos com granolas caseiras. Fiz algumas com aveia, mas logo veio o diagnóstico de que não poderia mais comer glúten. Nessa época, uma década atrás, não se achava aveia sem glúten no Brasil. Experimentei algumas granolas prontas, mas era tudo açucarado demais. Anos mais tarde, comecei a encontrar quinoa em flocos e voltou meu desejo de fazer uma granola gostosa para os cafés da manhã.
Esta é, sem dúvida, a receita que mais me pedem. Já a faço há muitos anos e gosto sempre de presentear amigos com um pote dela. E o que ouço depois é sempre algo como: “Melhor granola que já comi” ou “Comi tudo de uma vez só” ou “Me passa a receita”. Claro que adoro ouvir isso! Mas gosto muito também de ver as variações que as pessoas fazem depois: misturam aveia, trocam a castanha, acrescentam coco. Fico mais feliz ainda com esse retorno. E, eu sei, estou devendo a receita para um monte de gente ainda. Mas hoje pago a dívida!
O segredo para uma boa granola está na proporção certa entre {grãos + sementes + castanhas} e {gordura + açúcar}. É essa quantidade ideal que vai fazer a granola ficar crocante sem ficar doce demais. Eu gosto de fazer numa proporção de 6 ou 5: 1. Ou seja, seis ou cinco partes de grãos, castanhas e sementes para uma parte da mistura de óleo e açúcar. Para mim, a melhor combinação é óleo de coco e melado. O óleo de coco fica suave, não deixa gosto forte e ajuda a adoçar. De vez em quando faço também com manteiga de cacau em pó e fica fabuloso. Só não é tão fácil de encontrar. E adoro melado em receitas que vão ao forno. Prefiro usar o mel em preparações cruas, para preservar mais suas propriedades.
Gosto da minha granola bem crocante e com uns pedacinhos grudados, como se fossem biscoitinhos. Para isso, o segredo é não mexer demais a granola no forno. Eu só mexo uma vez, quando acrescento as castanhas e sementes (que só entram no final, pois torram mais fácil). E, mesmo assim, mexo bem de leve, com uma espátula.
Outra coisa que faz diferença é a assadeira. Uso sempre uma antiaderente grande e de bordas altas. Tem que ser grande para a granola espalhar bem. Caso contrário, os grãos, como estão úmidos, vão cozinhar e não vão ficar crocantes. Mas, se a borda da assadeira for baixa, como naquelas próprias para assar cookies, os grãos vãos queimar rápido demais. E, em vez de crocantes, vão ficar torrados.
A temperatura do forno também é importante: asso a 150 °C no meu forno, que é elétrico. Em forno a gás, use no baixo. A granola está pronta quando a casa estiver tomada por um cheiro maravilhoso e os grãos estiverem dourados.
Outro detalhe para garantir a crocância é esperar a granola esfriar para, só depois, tirá-la da assadeira e guardá-la num pote de vidro. Eu tiro do forno, dou uma chacoalhada na assadeira e deixo esfriar por completo: isso garante que os gruminhos fiquem juntos e bem croc-croc. Se você aguentar não comer tudo de uma vez, ela dura mais de uma mês num pote de vidro bem vedado.
Ainda gosto de comer a granola no café da manhã; agora com leite, creme ou iogurte caseiros de coco. Mas, confesso, tenho que me conter para não comê-la pura, numa sentada só, como se fosse pipoca!
- 2 xícaras de quinoa em flocos
- ⅔ xícara de castanha-do-pará picada
- 4 colheres (sopa) de semente de abóbora sem casca
- ¼ xícara de óleo de coco
- ⅓ xícara de melado
- 2 a 3 bagas de cardamomo
- Preaqueça o forno a 150 ºC.
- Numa assadeira antiaderente grande e de bordas altas, coloque a quinoa em flocos.
- Por cima, junte o óleo de coco e o melado.
- Misture bem até todos os grãos de quinoa estarem envolvidos pelo óleo e pelo melado.
- Abra as bagas de cardamomo e, em um pilão, soque as sementes.
- Misture o cardamomo à quinoa.
- Espalhe bem a quinoa na assadeira e leve para assar por 20 minutos.
- Enquanto isso, pique as castanhas grosseiramente.
- Passados os 20 minutos, retire a granola do forno e acrescente as castanhas e as sementes de abóbora. Misture delicadamente e o mínimo possível.
- Volte a assadeira para o forno e asse por mais 10 minutos, até que a granola esteja dourada.
- Tire do forno e deixe esfriar, sem mexer. Só depois de fria é que os grãos ficam crocantes.
- Passe a granola para um pote de vidro e conserve bem tampado.
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