Nesta altura da vida, acho que já me conheço o suficiente para ter, pelo menos, algumas certezas. Eu, por exemplo, comeria abóbora todos os dias, sem enjoar nadinha. Tudo bem, essa é óbvia pra quem me conhece um pouquinho! Mas, para não ser exagerada, fico só na vontade mesmo. A segunda é que tenho que ter água por perto. Não para beber, mas para me recarregar de mim mesma: nadar, mergulhar ou, o mais poderoso de todos os remédios, tomar um bom, longo e gelado banho de cachoeira. É essencial e tiro e queda para curar qualquer mazela da minha alma aquariana com ascendente em peixes. Outra certeza é que pre-ci-so de dias de sol o ano inteiro para ter o humor assim ó, tinindo. Sempre digo que, se eu morasse em Ouro Preto, seria uma pessoa bem deprê. Não me entendam mal, adoro a cidade. Para passear, curtir seus morros, aprender toda a história que vive ali. Mas, para morar, nunquinha. Tem muito cinza, sombra, céu cortado pelos (lindos) morros de Minas. Preciso de horizonte plano, céu a perder de vista, sol que pede óculos escuros. Não à toa, sou bem feliz em Brasília!
Apesar de longe do mar, a cidade me banha de sol quase todos os dias. E quando o azul do céu sai de férias, ainda tem aquele desbunde de lago. Não tenho nada mesmo a me queixar daqui. Contrariando o bom senso, até da seca eu gosto. O cabelo fica alinhado, o pôr do sol vira um espetáculo rosa-lilás-alaranjado e a vida pode acontecer lá fora sem preocupação nenhuma com intempéries! Pois é, me sinto tão bem na cidade que não penso em me mudar. Mas, se fosse passar uma temporada fora, certeza que seria numa ilha tropical com tudo o que tenho direito: mar verde-azulado, peixes fresquinhos, coqueiros balançando ao vento. E, claro, sol, muito sol.
Quando, nesta época do ano, a poeira do fim da seca toma conta do meu céu azulado de Brasília, me pego sonhando com alguma dessas ilhas. Dias atrás, senti que precisava me refugiar, nem que fosse pelo estômago, num paraíso desses. Foi aí que me lembrei de uma receita que adoro e que tinha prometido, para as turmas do Cozinha Tropical, postar aqui. O poisson cru (em francês, peixe cru) é o prato nacional da Polinésia e provei pela primeira vez no Havaí, outro amor eterno! É um primo do ceviche, o prato típico do Peru, que também aparece na culinária de outros países latinos e até de ilhas do lado de lá do Pacífico. A diferença é que, no poisson cru, o peixe, que pode ser atum ou peixe branco, é marinado em limão com leite de coco. Ah, mais tropical impossível! Em vez de cebola roxa, usamos cebola branca. No lugar do meu tão amado coentro, entra a cebolinha. A pimenta continua! E, além do leite de coco, acrescentamos pepino, cenoura e, se quiser dar mais uma cor e doçura ao prato, tomate.
Só tem um segredo nesse prato: o peixe tem que ser fresco e o leite de coco também. Por favor, nem pense em abrir uma daquelas garrafinhas de leite de coco pronto. Fazer em casa é tão fácil, tão mais gostoso, além de saudável, que a “praticidade” da garrafinha não se justifica (explico como fazer neste post aqui). Fora que ia perder todo o frescor do prato, justamente o que a gente mais quer para se sentir assim na Polinésia! Para combinar, um dia de primavera, que vem chegando aí, tá ótimo. E tudo bem se vier acompanhado de chuva, né?
- 600 g de peixe branco
- 2 pimentas dedo-de-moça sem sementes
- 1 xícara deleite de coco caseiro
- 1 cebola (o tradicional é a branca, mas às vezes uso a roxa)
- 1 cenoura
- 1 pepino japonês pequeno (escolha um fino)
- 6 tomates-cereja (sem sementes)
- ⅔ xícara de caldo de limão
- 4 talos de cebolinha verde
- 1 colher (chá) de sal
- 3 pedras de gelo
- Prepare os ingredientes, enquanto isso, deixe o peixe na geladeira.
- Corte as pimentas ao meio, retire as sementes e pique-as em tirinhas bem finas.
- Corte a cebola branca ao meio e depois em meias-luas finas.
- Descasque, se quiser, a cenoura. Divida-a em bastões de mais ou menos 3 cm. Corte cada bastão em fatias finas, no sentido do comprimento. Empilhe as fatias e corte-as em tirinhas finas.
- Para esta receita, gosto de pepinos japoneses. Melhor ainda, se forem aqueles bem pequenos e fininhos. Se o pepino for fino, corte-o em rodelinhas. Se ele for mais grosso, você pode picá-lo em tirinhas como a cenoura.
- Corte os tomatinhos ao meio, retire as sementes com cuidado e corte-os em tirinhas.
- Corte as cebolinhas verdes finamente.
- Depois de todos os ingredientes picados, prepare o peixe.
- Retire-o da geladeira e cheque se há ainda alguma espinha ou gordura para limpar.
- Você pode escolher o corte do peixe: em lâminas finas ou em cubos médios. Eu geralmente faço em cubos de cerca de 1,5 cm a 2 cm.
- Coloque o peixe numa tigela funda. Tempere com o sal e a pimenta dedo-de-moça. Misture com cuidado.
- Acrescente as pedras de gelo e misture de novo.
- Numa outra tigela, junte o leite de coco, o caldo de limão, a cebola, a cenoura, o pepino e o tomate. Jogue esse caldo sobre o peixe e misture com cuidado.
- Passe para a tigela de servir e decore com as cebolinhas verdes.
- Sirva em seguida (pode retirar as pedras de gelo).
Deixe um comentário