O tempo aqui em Brasília anda bem temperamental neste início de outono. Acho que transição de estações é para ser assim mesmo, né? A gente acorda com um céu meio azul-tímido, dali a pouco o sol e o azul ganham fôlego e a gente perde o nosso de tanto calor, mas no meio do dia um sopro de vento mais fresco anuncia a chuva que logo mais vai chegar e fazer a gente dormir de manta e meias nos pés e acordar no dia seguinte sem saber o que vestir. É uma loucura. Confunde até meu estômago, que não sabe se quer uma salada de abobrinha e vagem com o frescor do mediterrâneo (que foi exatamente a escolha para o calorão de domingo passado) ou um curry de raízes bem quentinho (que fiz outro dia, mas já ando desejando para amanhã).
Eu não sei você, mas o que sai das minhas panelas é completamente influenciado pelo que meus olhos veem pela janela. Se falta cor no céu, certeza de que vai ter muitas na minha mesa. Definitivamente preciso delas para ser feliz. Se não fosse pedir muito, queria todo dia um típico céu de inverno em Brasília, lindo na sua infinitude de azul. E se não tem sol, vou buscar calor numa panela fumegante. Nos dias indecisos, que não estão nem para salada nem para sopa, adoro fazer purê. É leve e ao mesmo tempo traz o conforto que um dia de outono pede. Faço tantos que não sei de qual gosto mais: de inhame com cumaru, de banana-da-terra com leite de coco, de cenoura com especiarias, de abóbora com gengibre.
Ah, o de abóbora tem uma textura única. Aveludado, lisinho, cremoso. Eu sou muuuito suspeita para falar de qualquer receita com abóbora, mas este purê é, seguramente, um dos que mais gosto (e, consequentemente, faço). Sempre uso a abóbora-cabotiá (ou japonesa), porque ela tem a polpa mais sequinha, o que ajuda na textura final do prato. Com outras morangas também dá certo, só precisa ajustar a quantidade de leite de coco (caseiro, sempre! Já mostrei aqui como é fácil fazer) para a textura desejada. Aliás, para uma textura linda, assar a abóbora, em vez de cozinhá-la, é uma boa. Outra variação é assar uma cabeça inteira de alho até ele ficar bem docinho e bater um pouco com o purê.
Como as cores também são importantes na minha mesa, prefiro fazer o purê sem a casca, para ter todo aquele laranja vibrando no meu prato. Mas não jogo nunquinha as cascas fora. Adoro assá-las como chips e comer como petisco ou até como se fosse um croûton, um crocante para acompanhar a sopa de abóbora. Aliás, esta mesma receita de purê, se batida com um pouco de caldo de legumes, mais leite de coco, chá de gengibre ou até água, vira uma sopa deliciosa. Para fazer a casca crocante, basta cortá-la em tirinhas ou retângulos (dá certo também fazer com a casca da abóbora que foi assada inteira), espalhá-la em um tabuleiro grande sem sobrepor, temperar com azeite e sal (e alguma erva, se quiser, como sálvia, alecrim, tomilho) e levar para assar em forno de moderado a alto até ficarem bem crocantes e douradas. Quando tiro do forno, sempre salpico flor de sal para dar um croc e um salgadinho a mais.
As sementes também não desprezo. Difícil achar sementes de abóbora-cabotiá boas para plantar (quando estão estufadas, gordinhas), então, em geral, eu asso para servir como belisquete ou acompanhamento (com a sopa também fica ótimo ou por cima de saladas). E só tirar o excesso de mucilagem (pode lavar, se quiser), secar bem e levar ao forno médio com sal até dourarem. É rápido, então, é bom ficar de olho. E, como sempre, flor de sal por cima depois de pronto.
Este purê é um prato curinga do meu repertório. Na dúvida do que fazer, por exemplo, para acompanhar um peixe ou para receber amigos em casa, é sempre uma das minhas opções. Sorte que ele casa bem com todas as estações da minha cozinha!
- 700 g de abóbora-cabotiá (japonesa) descascada e cortada em cubos médios
- ½ xícara de leite de coco caseiro
- 4 rodelas finas de gengibre (para o cozimento)
- 2 colheres (chá) de gengibre ralado
- sal
- Coloque a abóbora em uma panela média e complete com água até cobri-la. Acrescente sal, o gengibre em rodelas e leve para cozinhar até a abóbora estar macia.
- Quando a abóbora estiver cozida, passe-a para o liquidificador, sem o caldo do cozimento.
- Adicione o gengibre ralado e o leite de coco. Prefiro colocar o leite de coco aos poucos, para ir ajustando a textura até o ponto que eu gosto, lisinho e cremoso. Bata bem até ficar homogêneo.
- Prove, ajuste o sal, o gengibre (se quiser mais) e o leite de coco.
- Sirva em seguida ou volte à panela para aquecer antes de servir.
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