O Cozinha Tropical
Cozinhar é, para mim, uma forma de me colocar no mundo. De criar conexões, relacionar pontos que pareciam distantes, conhecer pessoas, lugares e histórias inspiradores. Há dez anos pesquiso e estudo sobre cozinhas regionais ao redor do mundo. Meu foco é bem localizado: são as comidas tradicionais — a cultura, a história e tudo o que vem junto — dos países que estão entre os trópicos. Para defini-las dentro de um mesmo contexto, criei o termo cozinha tropical.
O projeto nasceu quando entendi que o meu quintal pode ser um tanto quanto semelhante a um na Malásia, na Tailândia ou na Indonésia. Como estamos dentro da faixa tropical, temos condições propícias, como clima e solo, para que as mesmas ervas, frutas e hortaliças — ou variedades semelhantes — cresçam tanto lá quanto aqui. É como se a natureza não conhecesse fronteiras. E como se houvesse potencial para um gosto, um paladar, uma cozinha em comum.
Dois ingredientes, porém, adicionam o tempero da “localidade”, que muda muita coisa: a história e a cultura. Cada povo vai usar o mamão, a mandioca, a pimenta de um jeito. Quando descobri, por exemplo, que no Sri Lanka, usam cajá-manga verde para fazer curries e conservas, abriu-se um novo universo de possibilidade para mim: eu antes me frustrava esperando, por meses, a fruta ficar madura para só então comê-la.
Foi assim que me senti instigada a não apenas cozinhar, mas também pesquisar sobre as cozinhas regionais tropicais. Conhecê-las me permite ligar pontos apagados pelo tempo, ampliar o repertório de saberes culinários, usar de forma totalmente nova o que temos aqui no quintal, nas feiras e mercados. É um jeito de expandir o olhar, de ressignificar ingredientes, encontrar combinações inesperadas, fazer conexões entre sabores e maneiras de comer. E até mesmo de não perder mais uma fruta no pé por não saber o que fazer com ela.
No Cozinha Tropical busco, então, as conexões entre as cozinhas tropicais (principalmente a brasileira e as do Sudeste Asiático), seus saberes e ingredientes aparentemente tão distantes, mas, ao mesmo tempo, semelhantes, principalmente quando estão em uma mesma latitude. Estabelecer esses pontos de contato traz inspirações únicas para a nossa forma de cozinhar.
O projeto tomou forma em 2018, depois de fermentar muito tempo só na minha cabeça e eu não encontrar mais desculpas para adiá-lo. Lançamos o blog, que primeiro se chamou Cabotiah, inspirado na minha paixão por abóbora. Logo em seguida, começamos as oficinas de culinária na minha casa. A ideia é sempre apresentar um pouco das cozinhas sobre as quais pesquiso, como a da Malásia, do Vietnã, da Tailândia, do Laos, compartilhando não apenas receitas, mas conhecimentos sobre ervas, técnicas, cultura, história, saberes tradicionais, ingredientes não convencionais. E, claro, depois nos sentamos para compartilhar os prazeres de uma refeição feita a tantas mãos.
Aliás, o Cozinha Tropical nasceu também para dar vazão às minhas outras paixões de escrever e receber em casa. Por isso, as receitas do blog não se resumem apenas a ingredientes e modos de fazer, ganhando ares de uma conversa boa entre amigos. Aqui o intuito é compartilhar conhecimento, trocar experiências e, assim, inspirar as pessoas a cozinharem mais e de forma mais leve, criativa, diversa. E, sobretudo, o Cozinha Tropical é um convite para experimentarmos cada vez mais a magia que acontece quando cozinhamos e reunimos família e amigos ao redor da (boa) mesa!
Um pouco mais sobre mim
Sou Fernanda Vidigal. Jornalista, feliz moradora de Brasília e mineira de coração. Mas, sobretudo, uma cozinheira entusiasmada e louca por abóbora, coentro e coco fresco. Em casa, provavelmente estou na cozinha, na horta ou na varanda lendo as histórias por trás de cada foto e receita de um livro de culinária, novo ou antigo. Não importa se cozinho só para mim, para o Léo, meu marido, para o Fubá e a Zucca, nossos cães, ou para os amigos todos; colocar comida na mesa é uma das coisas que mais me dão prazer. Adoro viajar, subir montanhas e não consigo ler sem uma xícara de chá por perto.
Acredito que todo mundo tem uma forma única de se expressar, de estar no mundo, de se conectar com as pessoas. A minha é pela comida. Cozinhar é a minha linguagem primária do amor. É a forma mais natural que tenho de levar atenção, carinho e um pouco de mim para o outro. De dizer “te amo”, “obrigada”, “me desculpe”.
Comida, para mim, está sempre carregada de significados outros que apenas matar a fome ou alimentar o corpo. É sinônimo de afeto, memórias, conexão. Talvez por isso cozinhar me alimente tanto. Cozinho todos os dias, em casa ou por aí, com todo o conforto de uma cozinha ou só com um fogareiro no meio do nada, nas nossas expedições mundo afora.
Não sei exatamente quando comecei, mas ainda era menina, lá em Minas Gerais. Sei que é uma herança materna: da minha bisavó, que plantava de tudo; da minha avó, que sempre cozinhou da forma mais artesanal possível; da minha mãe, que faz a melhor comida caseira do mundo e que criou sua maneira própria de cozinhar, que tanto me inspira. Tantas receitas de família renderam um livro, que editei para a minha mãe, em 2015. Nele estão reunidas as receitas que mais fizeram sucesso na mesa lá de casa. Depois desse projeto, ficou claro que, de uma forma ou de outra, que a paixão por comida poderia extrapolar além das panelas.
Aí entra, então, minha outra forma preferida de me expressar: a escrita. Os presentes mais valiosos para mim sempre são os que vêm em forma de palavras. São os cartões que guardo, todos, em caixas que abro de tempos em tempos. Um presente meu sempre tem também um bilhetinho. Se receber comida feita por mim acompanhada de um cartão, saiba, pois, que é amor ao quadrado que foi embrulhado para presente! É isso que vai encontrar por aqui também.
Seja muito bem-vindo, sinta-se à vontade e sirva-se com prazer das nossas ideias!