Elas explodem na nossa boca na primeira mordida; é tanta suculência que o caldo escorre ali pelo canto dos lábios, eles mesmos já coloridos de roxo azulado. Eu confesso que, muitas vezes, acabo também com a roupa manchada, mas faz parte da indulgência, nem ligo mais. Não tem como comer amoras sem que sua intensidade fique impregnada na gente. A época delas está no fim e espero muito que você tenha aproveitado tanto quanto eu. Para quem mora aqui em Brasília, cidade-pomar, é fácil encontrar um pé carregado pelo caminho (difícil mesmo é a gente andar a pé observando delicadezas). Eu tenho um pé pequeno no quintal e uma vizinha querida que me presenteia com sacolas de frutas e folhas, que uso para infusão. Como a estação das amoras é curta, o que faço sempre é congelar para ter essa alegria púrpura também nos meses seguintes. Para comer, encher a boca delas, eu gosto mesmo é das frescas. Mas as congeladas ficam ótimas em algumas receitas, como nesta torta de coco, castanhas e frutas vermelhas.
Aliás, adoro todas as frutas vermelhas: amoras, framboesas, mirtilos, cerejas, morangos, pitangas, acerolas e, claro, elas, jabuticabas. Cada uma é uma pequena preciosidade da natureza. Já parou para ver uma amora de perto? É como uma coleção de mínimas uvas geometricamente aglomeradas para nos dar o máximo de cor, sabor e beleza numa frutinha só. É demais ou não é? Não foi à toa que resolvi usá-las nesta receita. Elas, junto de framboesas, mirtilos e morangos, impressionam! Tanto que esta já virou a torta oficial de aniversários e Natais aqui de casa (aliás, é uma ideia ótima para o Natal deste ano, que nos virou de cabeça para baixo. Acho que vale quebrar uma tradição e incluí-la na ceia). Mas não é só pela beleza, não, se você experimentar a torta de olhos fechados ainda assim vai se apaixonar, olha só: primeiro, pequenas bolsas de sabor, combinando doçura e acidez de variadas intensidades se desfazem na boca, encontrando logo a seguir a delicadeza e a cremosidade de uma rica camada de creme de coco fresco e gelado, que se derrete devagar, seguida de uma outra camada doce, ao mesmo tempo, macia e crocante e com um salgadinho lá de longe para realçar isso tudo. É muito bom!
Fiz esta versão da torta, pela primeira vez, num aniversário meu há uns três anos. Exagerada, fiz seis tortas, mas no dia seguinte não tinha nem um pedaço sequer para aquela hora em que os cozinheiros provam, com calma, a comida no pós-festa. Os amigos pediram tanto para eu ensinar a fazer a torta (e outras receitas da festa) que ela acabou entrando na primeira versão das aulas do Cozinha Tropical e é uma das receitas mais reproduzidas. É fácil de fazer, fica deliciosa e as combinações de sabores na cobertura e na base são infinitas. Então, mesmo quando a época das amoras se vai, a gente continua tendo bons motivos (e ideias) para fazer a torta!
A primeira vez que a fiz em um aniversário meu, há uns 5 anos, foi com cobertura de manga e gengibre, bem tropical, doce e com um ardidinho bom. Eu adoro essa combinação, que é bem a cara do nosso verão. Um pouco de damasco nessa mistura também fica bom. Antes disso, na primeira vez mesmo que testei a receita, num jantar para amigos, a cobertura foi de fisális, framboesas, pistache e pedacinhos de chocolate amargo salpicados. Outras boas ideias para a cobertura são goiabada cascão dissolvida em um pouquinho de água e com umas gotas de limão; geleias caseiras de frutas; raspas de limão; ganache de chocolate (que pode ser feita com chocolate meio amargo em barra derretido em banho-maria mais um pouco de leite de amêndoa); e frutas frescas cortadas, como figos e mangas bem suculentas. Aliás, na foto aqui, eu congelei as frutas vermelhas com a torta. Nesse caso, é bom tirar a torta do congelador uns 20 a 30 minutos antes de servir, para dar tempo de as frutas descongelarem um pouco. Funciona também afundar um pouco as frutas no creme para não congelarem tanto. Mas hoje, muitas vezes, só acrescento as frutas na hora de servir. O morango, por exemplo, como tem muita água, demora a descongelar.
No recheio, em geral, não mudo muito porque amo coco com baunilha, mas, se quiser, pode brincar com cores e sabores: a manga com gengibre (uma xícara de polpa congelada) pode vir para a camada do meio e aí teremos uma torta de um vibrante amarelo; morango e amora (duas xícaras das frutas congeladas) tingem de rosa o recheio; e um pouco de caldo e raspas de limão deixam um azedinho mais acentuado. Nesse caso, se formos juntar frutas ao creme de coco, é importante que elas estejam congeladas para chegarmos à textura adequada.
A base é sempre uma combinação de frutas secas, que dão estrutura, doçura e maciez, com castanha, que traz textura e cuja gordura ajuda a dar a liga. Geralmente, uso tâmaras sem caroço e castanhas-da-pará, que é uma mistura de sabores ótima e que vai bem com todas as opções de cobertura e recheio. Outras boas opções de frutas secas são figo turco, damasco e uva-passa branca ou preta. Em vez de castanha-do-pará, vale baru, avelã, nozes, pistache, amêndoa, amendoim, macadâmia (melhor ainda se elas estiverem bem crocantes, como ensino aqui). Um pouco de coco ralado junto também vai muito bem. E aí é brincar com as combinações: cobertura de goiabada com amendoim na base, cobertura de framboesas com figo turco e pistache na base, cobertura de manga com damasco e avelã ou macadâmia na base. Uma coisa é certa: a torta faz sucesso com qualquer roupagem!
Torta gelada de coco, castanhas e frutas vermelhas
Ingredients
Base
- 1 xícara de tâmara sem caroço
- 2 xícaras de castanha-do-pará
- 2 a 3 colheres (sopa) de cacau em pó (opcional)
Recheio
- 2 xícaras de castanha-de-caju "crua" (deixar de molho por 8 horas em água filtrada)
- ½ xícara de óleo de coco líquido
- ½ xícara de mel
- 1 colher (café) de extrato de baunilha (ou 1 fava de baunilha)
- uma pitada de sal
- ½ xícara de leite de coco caseiro bem grosso (bater 1 xícara de coco com 1/2 xícara de água filtrada quente e coar)
Cobertura
- 1 caixa de framboesa
- 1 caixa de amora
- 1 caixa de mirtilo
Instructions
Base
- Pique grosseiramente a castanha-do-pará e a tâmara.
- Bata a castanha com a tâmara no liquidificador (ou processador) até a mistura ficar homogênea. Se ficar difícil de bater, pare e puxe com uma colher a massa das laterais para o centro do liquidificador. Tudo bem ficar um pouco das castanhas em pedaços pequenos.
- Junte o cacau e bata mais. Prove e ajuste a quantidade de cacau.
- Distribua a massa em uma fôrma redonda de aro removível (24 cm ou 27 cm), sem cobrir as laterais. Aperte bem e deixe a base com mais ou menos 1 cm de altura. Reserve.
Recheio
- Escorra as castanhas-de-caju que estavam de molho.
- No liquidificador, junte as castanhas, o óleo de coco, a baunilha e o sal e bata bem até ficar cremoso e homogêneo. Vai ficar um creme grosso.
- Coloque uma parte do mel, bata e prove. Depois acrescente o quanto mais achar necessário. Como a doçura do mel varia muito, melhor colocar aos poucos e ajustar a quantidade ao seu paladar.
- Da mesma forma, junte aos poucos o leite de coco grosso e bata. O creme deve ficar consistente, mas leve. Prove e ajuste os sabores.
- Cubra a massa com o recheio.
Cobertura
- Se quiser congelar a torta com as frutas, distribua-as agora por cima do creme, afundando parte delas. Se não, acrescente as frutas apenas no momento de servir.
- Cubra bem a fôrma com plástico filme e leve ao congelador por 8 horas.
- Retire a torta do congelador uns 20 minutos antes de servir.
- Sirva gelada.
Notes
processors
Torta gelada de coco, castanhas e frutas vermelhas – cozinhatropical.com