O outono chegou e, com ele, o auge da safra da abóbora japonesa ou cabotiá. Confesso que é também uma época desafiante para mim. Explico: não há nada neste mundo que eu goste mais de comer do que abóbora assada (vem daí o nome do blog!). Ah, ela bem sequinha e crocante por fora e ainda cremosa por dentro… Então, com tanta oferta na feira nessa época, preciso me conter, mesmo, para não comer isso todos os dias! Mas pelos menos duas vezes por semana tem abóbora no cardápio aqui de casa.
Para não ficar monótono (não que eu me canse de comê-la só assada com ervas em lascas ou em cubos), fui criando formas de usar a abóbora nos mais variados pratos: do café da manhã ao jantar em dia de festa. Pão de abóbora com inhame, bolo com especiarias, moqueca de legumes, purê com gengibre, chips, pão de frigideira com canela, dip com tahine, quibe com quinoa, bobó de camarão são algumas ideias. Quando o tempo esfria e o corpo pede uma comida mais reconfortante, porém, a primeira coisa em que penso é em uma sopa bem cremosa. Daquelas que te trazem para dentro de um abraço. Nessas horas, então, gosto de fazer um creme de abóbora. Um não, vários. E cada vez sai de um jeito: com gengibre, com infusão de ervas, com caldo de legumes, com leite de coco, com a polpa e a casca da abóbora.
De uns tempos para cá, resolvi jantar sopa todos os dias (ou, pelo menos, de segunda a sexta-feira). Como trabalho à noite e janto lá bem rapidinho, comecei a querer algo que fosse nutritivo, substancioso, para não chegar em casa no início da madrugada e atacar a geladeira, mas também leve para não pesar no estômago. Só sei que a experiência está dando supercerto e não quero saber de outra coisa no jantar. Então, todo dia transformo algum dos legumes do almoço numa sopa diferente. E é assim que surgiu a receita deste creme.
Penso sempre em três elementos quando vou fazer sopa: a base (em geral, escolho um ou dois legumes; não gosto de misturar legumes demais, prefiro um sabor predominante), o fundo (caldo, água ou infusões) e os temperos (ervas e especiarias). Nesse dia, tinha abóbora japonesa assada para o almoço. Ela seria, então, a base da sopa. Poderia ser cozida, mas assada dá uma cremosidade diferente. A chaleira apitando me lembrou de um chá de gengibre e cúrcuma — ou, para ser precisa, uma decocção — que estava preparando para aquele dia e que daria um ótimo fundo para a sopa. Aliás, adoro usar infusões ou decocções, em vez de água, para cozinhar. É uma forma das mais simples para variar os sabores e ainda acrescentar coisa boa na comida do dia a dia, como arroz, purê, grãos, legumes cozidos… No canto da cozinha, tinha uma jarra com manjericão de folhas largas e hortelã (eu conservo ervas como manjericão e hortelã, que são muito sensíveis, numa jarra com água fresca num canto da bancada. Assim ficam protegidas do frio da geladeira, que queima as folhas, e duram mais. Fora que a cozinha fica linda e cheirosa!). Pronto, as ervas já estavam também escolhidas. A única coisa que fiz foi aromatizar o chá de gengibre e cúrcuma com folhas de manjericão e hortelã (combinação que, inclusive, já virou uma das minhas preferidas para este outono).
E não é que o improviso saiu melhor que o esperado? Vou te dizer que esta sopa é uma surpresa para o paladar: tem a doçura da abóbora, o picante do gengibre e o frescor do manjericão e da hortelã. Uma delícia para as noite de outono.
- 600 g de abóbora japonesa
- sal
- azeite
- tomilho fresco (opcional)
- 12 folhas de manjericão do tipo basilicão (aquele de folhas largas, mas pode ser o comum também)
- 600 ml de água filtrada
- 3 rodelas grandes de gengibre (cerca de 2 cm)
- 4 rodelas de raiz de cúrcuma
- 1 galho pequeno de manjericão
- 1 galho pequeno de hortelã
- Preaqueça o forno a 180 ºC.
- Parta a abóbora ao meio, retire as sementes e corte-a em pedaços médios, mantendo a casca (se não quiser usá-la, pode cortar a casca e assar como chips, que podem fazer as vezes dos croutons).
- Numa assadeira, disponha as abóboras, tempere com sal, tomilho (opcional) e regue com azeite.
- Leve ao forno por cerca de 40 minutos, até que as abóboras estejam douradas por fora e macias por dentro.
- Enquanto isso, prepare o chá. Corte o gengibre e a cúrcuma em rodelas.
- Numa chaleira com tampa, ferva a água, o gengibre e a cúrcuma. Quando ferver, abaixe o fogo e deixe por mais 10 a 15 minutos. Quanto mais tempo, mais picante fica.
- Desligue o fogo, acrescente o manjericão e a hortelã e deixe tampado por cerca de 5 a 10 minutos. Antes de usar, coe.
- Quando a abóbora estiver pronta, passe-a para o liquidificador. Acrescente cerca de 400 ml do chá de gengibre, umas 12 folhas de manjericão e uma pitada de sal. Bata tudo até ficar homogêneo.
- Se quiser uma textura mais leve, acrescente mais chá e bate novamente.
- Prove e ajuste os temperos. Se preferir, leve ao fogo para aquecer antes de servir.
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